Play me first
Ouve-se um
trovão, seguido de um silêncio. Nunca saberemos porque o fazemos, pelo que
consta, fazemo-lo desde os primórdios do tempo mantendo assim a ordem e a
regeneração de toda a vida no Universo que lhe cabe na palma da mão. Somos aos
milhões, voando numa amálgama dourada onde a luz se multiplica a cada bater de
asas, num zimbório de calor maternal, um frenesim mudo de corpos despidos
pendurados em asas brancas que rodopiam entre o caos e a harmonia até chegar a
hora de nos deixarmos ir. É a missão que todos temos, dando continuidade ao
tempo até que ele meta fim a si próprio. Aqui também pensamos no que existirá
depois do tempo acabar e o porquê de ele existir, levamos connosco essa única
curiosidade grandiosa que nos apoquentará até ao fim da nova vida.
Descontraímo-nos.
Num último sopro olhamos para trás e contemplamos o que deixamos. Aquilo que os
humanos chamam céu, é um simples assento onde vagueamos dentro de nós pensando
e repensando o que queremos voltar a fazer e, aí, ninguém sabe em que nos
tornaremos. Entramos no carrossel como se o tivéssemos feito desde sempre,
andamos em círculos até chegar a nossa vez. Somos sonho, somente isso,
vislumbre do que será uma vida depois de nos despirmos de todos os sentimentos
e sabedorias. Fechamos os olhos e desconectamos do mundo divino. Abraçamos a
morte com um beijo inocente, na saudade de voltar para sempre aos seus braços.
O corpo contrai-se, resquícios de termos sido outrora humanos. A mão que nos
segura, larga-nos num espaço que nos parece infinito. A viagem parece-nos
longa, repleta de penas soltas e redopios. Tornamo-nos pesados, tão pesados que
as asas são arrancadas do nosso corpo. Gritamos não pela dor, mas pela viagem,
que a fizemos vezes sem conta mas que, mesmo assim, sentimos medo.
As imagens
apagam-se com o tempo, as memórias soltam-se do espirito. Dá-se o enlace,
caímos num mar quente, tão quente como no princípio do tempo. Cegos, sem
memória, sem asas, assim nascemos para o mundo empalamado, com o choro de um
grito.
- Parabéns, é um menino.
(dedicado à minha querida amiga Vera, com os meus parabéns pela tão difícil conquista)
(dedicado à minha querida amiga Vera, com os meus parabéns pela tão difícil conquista)
Será que é mesmo isso? Será que é mesmo assim? ;) Beijinho grande
ResponderEliminarDesde sempre o foi. :P
EliminarMuito bonito :)
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