Uns dizem que é o
destino, mas para mim a vida é feita de timings
sugeridos pelos acasos. Até aqui a palavra “sugerida” parece digna de deuses,
mas não é mais do meu lado mais romantizado das interacções com o mundo. Todos
os acontecimentos podem ter um simbolismo do tempo, seja o comboio que não se
apanha e o qual devíamos ter apanhado, seja no gostar de alguém, fazer aquela
coisa que sempre sonhámos, tudo é uma questão de timing para que aconteça.
Parece que é no
alinhamento dos acasos que algo surge como a possibilidade, ou não, de acontecer
o que realmente queremos nesse instante. “Ai se eu me tivesse levantado mais
cedo da cama, teria apanhado o comboio certo.”; “ Que sorte que tive em não
apanha aquele avião que se despenhou!”; “Eu devia ter-me apaixonado por ela
agora, mas agora não sinto nada”. Assim se dão os desencontros da vida, entre a
aceitação e a rejeição neste caminho sinuoso. Quem nunca gostou de alguém que
não gostava de nós e depois, esse mesmo alguém, passou a amar-nos, e nós,
distantes?
Agarramo-nos com
tudo o que temos para viver numa situação impregnada de vontade e de sonhos. Parece
que temos tudo dentro de nós para irromper nesse acaso, acertar as agulhas,
fazer o tempo andar para trás para que tudo se alinhe. Uma luta hercúlea que
nem mesmo o filho bastardo de Zeus, porá fim. O Cosmos que nos faz girar não se
alinha e lutamos contra a força do acaso a toda a hora…
Neste acaso,
embutido em todas as nossas vidas, cheias de estrelas e cometas que gravitam a
velocidades estonteantes, suspiramos pelo “se”. Se fosse noutro tempo, se fosse
noutro tempo, seria uma pessoa mais feliz, mas o “se” não é mais do que o tempo
que não volta mais, é um abismo tão infinito e frio como o universo que
habitamos. Nem mesmo um grito de ajuda chega à pessoa mais próxima, nem mesmo
um amo-te chega para aquecer o coração. Os ponteiros do tempo com o acaso a rir-se
de nós, continuam no tic-tac por toda a eternidade.
Aqui há gato!