“Fogo, que gaja tão boa!” - Começamos
logo bem – pensei -, enquanto fazia um pouco de supino para que o meu peito
chegasse a um 34 copa B e a minha namorada não fugisse com outro, parecido com o Mark Ruffalo. Ouvia este
pequeno prelúdio que daria um debate entre dois amigos, que encostados ao
parapeito da janela descansavam os seus braços inchados e repletos de veias.
O meus ouvidos tornaram-se afinado, como os
daquelas velhotas que estão todo o dia a janela, de robe com cores pardas e sujo
dos pombos, que escutam todas as conversas, todas as vidas. Levantei-me da primeira
série e meti mais dez quilos em cada lado. Hoje sentia-me imparável mesmo que os
meus pulsos sentissem a dor do meu esforço.
“Que cú!”- Toma lá mais uma bujarda, só
para saberes como se trabalha bem em Portugal na área do design
feminino. Mais uma repetição de dez, mais cinco quilos em cada lado. A minha
curiosidade, momentânea, aguça-se. “Quem será o alvo?” – Perguntei-me.
“Cú? E as mamas!?” – Dizia o mais
franzino, porém também musculado, tentando separar as águas e metendo ponto
assente que, caso tivessem um caso a três não se chateariam, um ficava com a
parte de cima, outro com a zona traseira. Achei de amigo esse comentário. É
nestas alturas que se vê a grande fraternidade entre os machos. É raro chatearmo-nos
por uma mulher. O pessoal divide e não se fala mais nisso. (NOT!)
Na minha última série – quase que
precisava de umas cuecas novas, devido ao peso -, senti o abanar das cabeças
dos dois amigos, como quem dizia; “ Está aqui tão perto e não posso tocar.”. Foi
aí que a minha curiosidade falou mais alto. Ao arrumar as bolachas, olhei para
a gazela que estes dois leões gostavam de abocanhar ou, pelo menos, amassar.
Era uma instrutora, a mais simpática diga-se de passagem, que sempre com o seu
sorriso, andava de estação em estação a ver se alguém precisava de ajuda. O
mistério estava desvendado.
Dois segundos depois, “Foda-se, o Jusoé
não joga um caralho!” – Ah! exclamei com sensação de alívio, assim está bem. É mais confortável, sentir
que os homens estão de volta ao normal. Mulheres! Não se assustem, pois este
comportamento é que define o homem, acima de vocês, sempre o futebol. Esta coisa é simples para os homens: Olhou, gostou, avacalhou, mas há que continuar com a
musculação, isto é, falar de futebol.
Foram mais de vinte minutos que falaram
de bola. Jusoé, Fernando, Gáitan, Luísão e até o relvado, tomaram o espaço outrora ocupado pelo rego das mamas e do rabo; e os seus braços, outrora musculados e repletos
de veias, transformavam-se a olhos vistos, em linguinis com tanto tempo de descanso.
Estes meninos faziam uma série de dez repetições e descansam quinze minutos. Depois queixavam-se, já
nos balneários e em frente ao espelho todos nus, que tinham que tomar suplementos.
“Creatina, é que é!”. Não percebo porque é que, alguns, mexem no pirilau quanto
estão em frente ao espelho. Reflexos da nossa evolução? Bem, adiante...
Já no banho ainda mandaram uma laracha,
mas desta vez, sobre o Quaresma. “Foda-se com aquele penteado não vai longe.”.
Dizia isto, um indivíduo que tem o cabelo em cone. Repito, em cone! Parece que a instrutora fora
relegada para o último plano e, no fundo, aquelas mamas e aquele cú que quase
os separavam, não passavam de um prelúdio que entre halteres desapareceu, dando
lugar ao Benfica vs FC Porto desta quarta-feira, onde não existirá um único bom jogador.
Os ginásios são todos iguais, fala-se
sempre de futebol com desdém, nunca ninguém é bom. Até já ouvi que o Messi ou o
Cristiano Ronaldo são uma merda, e quando passa uma mulher gira, é cu e mamas
para todo o lado, é faz e acontece, mordia e palpava, mas no fim o que
interessa é, veemente dizer que alguém não joga um caralho. Isto é que é de
homem, o resto são circunstâncias.
Aqui há gato!