sexta-feira, 1 de maio de 2015

A Mochila



Recostou-se no banco e sentiu aquele pequeno solavanco aquando as carruagens se encaixam umas nas outras, prontas para uma viagem sem fim. Levava uma pequena mochila vazia, amarrotada debaixo do braço. Aproveitou para apanhar melhor o cabelo, pois era uma mulher que se prezava. Aquele gesto que o indicador fazia, metendo, primeiramente, a sua cabeleira farta atrás da orelha, era digno de uma sensualidade invulgar. Inspirou fundo fixando o seu olhar no infinito.

O Apito apressava os transeuntes que na plataforma a fumar os últimos cigarros, a despedirem-se em lágrimas de alegria, de abraços sinceros e sorrisos meigos que agasalham qualquer um, nessa tarde fria de Outono.
Naquela estação só partiam comboios. Nunca ninguém vira as locomotivas voltar, parecendo que os carris só tinham um sentido, o de ida para o desconhecido. Talvez fosse esse o facto que levava as pessoas a despedirem-se de forma tão blandícia.
Era assim que começava a sua vida, com pessoas que não conhecia, sítios que só existiam na sua expectativa, sentimentos que não experimentara. A vida começava lentamente a preto e branco e só esta carruagem, com o rama-rame que lhe era inerente, podia dar um pouco de cor à sua visão.
Cada pessoa que lhe era desconhecida na plataforma falava com ela, tentando perceber um pouco quem ela era, ajudando-a a construir uma melhor visão do mundo fora daquele comboio.
Partilhavam as suas experiências, mostravam-lhe o mundo através dos seus olhos coloridos. Deixavam pequenas oferendas, palavras escritas em folhas soltas, pequenos momentos impressos em papel fotografia, por vezes pequenas frases ditas no aconchego de um abraço. Era uma panóplia de pertences que engordavam a sua mochila.
Os anos passavam e chegaria a altura daquela menina, já adulta, sair do comboio. Nunca se soube como esse momento de selecção era feito, mas era algo que sempre tinha ocorrido dessa forma ao longo do tempo. O mundo já não era a preto e branco, tinha cores intensas quase que lhes sentia os seus sabores e cheiros.
Parou, olhou para todo o lado e todos aqueles que outrora lhe afagaram os sentidos, tinham desaparecido. Tinha chegado a hora! Pegou na sua mochila, leve mas carregada de ideias, e deixou aquele comboio.
As portas fecharam-se. Todo o mundo estava à sua frente. Ajustou a mochila ao seu corpo ainda não percebendo que nela, guardava toda a forma de amar, todos os medos e virtudes, que a acompanhariam para todo o sempre fora dos carris que viajou, fora do comboio onde cresceu.
Vasco Ribeiro - 2015

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Conversas com uma Diva da Moda



Nós homens somos de uma limitação incrível e ontem, aquando observava de ouvidos bem abertos, as conversas entre mulheres cheguei à conclusão que jamais compreenderemos as inúmeras regras de indumentária que elas através dos tempos apreenderam. 

Parece que isso passa das mães para as filhas, de amigas para amigas e nós nem nos apercebemos que isto acontece. Parece que estou a vê-las, quando ainda Homo-Neandertal, colhendo bagas de várias cores aconselhando-se: “ Ai, vê lá se dás um corte no pipi, que as silvas embrulham-se todas aí em baixo, que nem o gato desata.”. À parte da minha pouco precisão antropológica, pois os gatos não se davam connosco nessa altura, penso que tudo começou na colheita de bagas de várias cores. As cores, esse marco incontornável de qualquer lápis para os olhos, ou batom, fazem parte dos seus primeiros genes. Já nós homens, que caçávamos e não olhávamos para nada, se não para o raio do Mamute, ficámos atrás no tempo.

Tempo que fez as mulheres elevarem o seu jogo. Enquanto os homens durante séculos usavam cabelo risco ao meio ou ao lado -Eu fui mais à frente, usei à tigela, vá-se lá saber por que razão a minha mãe me dava esse corte-, elas, de cabeleira farta criaram mais de mil penteados. E sabem como é, penteado novo, maquilhagem nova, talvez um vestidinho mais da moda, e entra-se num corrupio que acaba nuns sapatos que são tratados com o amor de um primeiro namorado.

Esta, já longa introdução, leva-me ao que me trouxe aqui. Fiquei de boca aberta quando oiço a regra dos 3Vs. Homens! Sabiam que existe a regra dos 3Vs que não é mais do que o fundamento do equilíbrio indumentário? As 3 verdades absolutas. Só senti o mesmo arrepio quando ouvi pela primeira vez na faculdade uma coisa parecida: Teorema Fundamental do Cálculo Integral. Bem, adiante. Eu que já pensava que era qualquer coisa como: Viver, Ver, Vencer ou Vasco, vais, voar, deparei-me com a magnífica trindade Pernas, Mamas e Costas.

Pois é, ao que consta por aí há linha ténue que separa uma mulher Sexy- Gorgeous e uma rameira de primeira-apanha que aceita vales de refeição como forma de pagamento. Sim, as mulheres metem logo as coisas nesses termos, só para enfatizarem a questão do equilíbrio e que, EU sou uma diva, ELA uma ranhosa. Até aqui são exageradas, mas não sei de onde isto vem. Ao longo da evolução das espécies o que me vêm à cabeça é: “Se morde, há uma grande probabilidade de ser feminino”.

A regra é de ouro, pelo que me constou, e diz dogmaticamente que uma mulher pode usar única e exclusivamente um realce aos seus atributos – Homens! Essa coisa de mulher com peito e coxa gostosa, é rameira, não se fiem! -, dois, ou três atributos realçados e já começará a ouvir comentários vulgares.

Pode levar um decote mais acentuado, sobressaindo um pouco mais o peito, mas nunca e também uma mini-saia, ou vestido que lhe mostre as costas. Leva-se uma mini-saia, nada de grandes decotes e muito menos costas ao léu. Finalmente, se as costas se veem, nada de mostrar a perna ou o vale dos infernos. Mini-saia e decote, só com meias opacas. Que brutalidade para acabar uma conversa!

Depois do nó cego no meu já atulhado cérebro, cunhei a ideia de que estamos noutro paralelo universal no que diz respeito às modas e a todo o dinamismo cosmopolita do século XXI. Juntar cabelo, maquilhagem, os 3V, os sapatos e a pose, deve ser um trabalho dos diabos.

Se as nossas ancestrais Neandertais soubessem o que para aí vinha, não tiravam o raio da silva e comiam uma amora. As mulheres são mesmo melhores e especiais.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Portugal dos Metralhas

Já dizia Abraham Lincoln; “ Se quiseres pôr à prova o carácter de um Homem, dá-lhe poder”. A nossa classe política e a nata da economia têm feito deste país uma profunda amálgama de fraudes e compadrios. Este governo é o exemplo máximo de que, o poder político anda abraçado aos amigos do dinheiro e se, por acaso falhar alguma coisa de um lado, o contribuinte é chamado como um bombeiro se tratasse – com muito respeito que tenho pelos bombeiros -, para apagar o fogo posto por brincadeira.

A minha memória de peixe de aquário, não se lembra de tudo, mas nestes anos de governo, assisti a algumas coisas que, aqui e ali, revelaram o caracter de todos os intervenientes. Começo pelo meu “ódio” de estimação; Paulo Portas, o senhor irrevogável que como bebé chorão fez a birra para subir para número dois do governo do PSD.

Assistiu-se de tudo um pouco, inúmeros orçamentos rectificativos, ondes as contas nunca batiam certo. O governo nunca acertou num número de previsão, mas o mestre Gaspar com toda a sua calma e incompetência lá caiu, mas para director do Departamento de Assuntos Orçamentais do FMI. Não deixa de ser irónico, uma pessoa que não consegue fazer um orçamento de estado que não seja alvo de uma rectificação e controvérsia, salte para um poleiro que tem um nome de “orçamentais do FMI”. Engraçado, também, ver que a instituição que mais pressão fez no País – FMI -, seja a casa que recebe o arquitecto da implementação das medidas da Troika. Faz lembrar os políticos que fecharam contractos principescos com as famosas PPPs e depois foram para CEOs (adoro esta pomposa sigla) dessas mesmas empresas.

Lá vieram as privatizações de empresas estratégicas como a EDP à China Three Gorges, depois a REN aos Chineses da State Grid e aos Árabes da Oman Oil Campany, a Caixa Seguros, seguradoras do grupo Caixa Geral de Depósidos, à Fosun Internacional, também uma empresa Chinesa. Agora está na calha a TAP Portugal. Estamos a vender tudo, mas o que interessa é que o dinheiro lá vai entrado. Não se sebe o que custará depois, mas isso também será um problema não deste governo, mas do outro que aí venha.
Entra-se na moda em salvar os bancos em vez dos estaleiros de Viana ou de outras empresas que contribuem para o PIB. Foi o BPP do senhor  Rendeiro, o BPN de uma maior quadrilha encabeçada por Oliveira e Costa. Senhor que se riu na comissão de inquérito por todas as falcatruas que fez e de como as perpetrou. Agora é o caso do BES, do Novo Banco, do banco mau e da família Espirito Santo. Tudo bons rapazes que no fim serão intocáveis fazendo lembrar o filme, o Bom, o mau e o Vilão.

O estado salva todos os seus amigos e, se não é o estado, há sempre um Granadeiro a meter à revelia dos seus accionistas, 900 milhões na RioForte do grupo GES. Uma mão lava a outra e os favores de outros tempos, mais tarde ou mais cedo, têm de ser pagos. Lá vai por água abaixo, a fusão da PT com a OI, mas o Estado não vê problemas e culpabiliza, segundo Pires de Lima (o senhor que foi contra a austeridade e contra este governo e depois a convite do mesmo, lá se sentou no poleiro), o PS de toda a desordem na PT. Fecham-se umas lojas, despedem-se algumas pessoas, vende-se uns activos e vende-se aos Franceses, será esta a solução.
Vamos ver como a justiça se porta, para julgar a nata deste país que faz todas as fraudes e tropelias e parecem ainda rir-se de nós todos. O Citius não ajuda, é certo, mas é o que há. A aguerrida ministra da Justiça ainda não viu o que fez e, tal como o governo, sempre arranja uma desculpa atrás de desculpa. A educação nunca viu tamanha trapalhada, mas Nuno Crato, ainda se mantem no governo. Não há vergonha na cara e ao estilo de Paulo Portas, lá ficou. Eles são todos escolhidos a dedo.
Deixo de fora a ministra das finanças e o ministro da Saúde, pessoas que, para mim, são acima da média neste governo tricéfalo.

Assim anda este Portugal, onde a múmia nada faz, nem fez, para meter em ordem o governo. Antevejo um tombo, não da cadeira para acabar com este circo, mas nas próximas eleições. A coligação, não ganhará nos próximos 10 anos as eleições e com sorte o PP deixará de ser o partido do táxi e sairá do mapa.

Como foi possível chegarmos ao ponto de nos rebaixarmos a essa coisa chamada Mercados, ao FMI, BCE, Troika e a José Eduardo dos Santos e sua filhota. Parece que o sobrinho deste está a ser investigado por branqueamento de capitais. Talvez se safe, depois de se ter safo de um processo de tráfico de mulheres. Mas como foi possível? Gostamos tanto de nos comparar com os outros países, mas a Espanha não fez nada, a Franca já chamou “ de loucos” os Troikianos e para Italia, são mais é pizzas.

Chego ao fim, pois já me alonguei, finalmente com um vislumbre comparativo da realidade Portuguesa. O país todo está como Miguel Relvas. Vive das aparências. Não interessa que o défice não seja cumprido depois de toda a austeridade, ou que a taxa de desemprego aumente (parece que o estado esqueceu-se dos inúmero emigrantes que temos hoje em dia e que há milhares de pessoas que não fazem já parte dos centros de emprego), ou que os buracos financeiros feitos pela banca sejam pagos pelos contribuintes, os cortes salariais, o corte constante nas acções sociais, etc. Somos como Miguel Relvas, o que interessa é passar a ideia de honestidade e de bons alunos, nem que para isso seja preciso “comprar” 32 cadeiras e mandar para a miséria 20% da população. É preciso mostrar ao mundo que somos pobres mas honrados nas nossas contas. A vida das pessoas é secundária. Como dizia Ulrich, “Ai aguentam, aguentam muito mais.”

Bem, no fundo, todos os irmãos metralhas se safam e se não se safarem há sempre um barco pronto para ir até cabo Verde ter com o Dias Loureiro e por lá ficar com uma conta offshore. Há sempre fuga, não é? Só não há para o contribuinte.
Fechando como comecei, estes são os homens de carácter do nosso País.

Ai Portugal, Portugal! Aqui há gato.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Ninguém ganha, ninguém perde. Tudo na mesma?



Quando se pensava que as Europeias serviriam para mostrar um cartão amarelo-torrado ao governo, o bom português decidiu ficar em casa. Sim, estão no seu direito, mas não venham agora opinar que o governo é chato, que corta pensões e salários, que gera mais desemprego e emigração, que faz crescer a dívida, ou que aumentará os impostos. A essas pessoas exige-se o silêncio. 66,11% de abstenção mostra que existe muita gente que não se interessa pela democracia nem pelos destinos do país na conjectura Europeia. A Europa cada vez mais agrilhoa os estados. Já não interessa quem manda no país, pois tudo o que vem de Bruxelas, FMI ou BCE é lei. Daí a importância destas eleições.

A vitória do PS foi tangencial: 3,76 pontos percentuais acima da Aliança Portugal pelo que não será fácil as legislativas com um diferencial tão pequeno. Esta vitória tornou-se num murro no estômago de António José Seguro, que do cimo do seu surreal pedestal, pensava que esmagava a Aliança PSD/PP. Claro que, para bem do governo, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas ficam com uma maior margem de manobra, perante estes resultados, fazendo figas – como assim li -, para que o secretário-geral do PS se mantenha em funções.

A minha opinião, nada vale. Não sou comentador político, mas vi nas campanhas, acima de tudo, dirigentes a esgrimir argumentos uns contra os outros, deixando o propósito das eleições Europeias para um segundo plano. Não houve uma alma caridosa que falasse das eleições Europeias, de políticas estruturais para melhorar esta velha Europa e até Paulo Portas com o seu populismo de pessoa abjecta, chamou à pedra o Eng. José Sócrates para relembrar o culpado da situação conjectural que Portugal atravessa. É o tipo de gente que não interessa ao país, na minha opinião. Ainda não conseguiu ultrapassar o facto de que José Sócrates, nada teve a ver com a crise das dívidas soberanas. Está-lhe entalado o José!
Passando à frente: A CDU cresceu, como era de prever. Quando o centro é igual (Pedro Passos Coelho é igual a António José Seguro. Dois carreiristas que nunca mostraram trabalho), os extremos ganham sempre uns votos. A CDU tem muitos eleitores fiéis e isso valeu-lhe o 3º lugar. Quanto ao apresentar uma moção de censura, parece-me até infantil o acto, pois só reforçará a oposição, que fará como sempre fez: Transformará a moção num voto de confiança e arrastará para o “fundo” o PS uma vez mais, que atrás das moções corre.
Depois temos Marinho Pinto que com o seu estilo UKIP, ganhou um lugar na Europa. A ver vamos se se conseguirá fazer ouvir lá fora apontando o dedo como tão ferozmente o faz em Portugal.
Vendo um pouco a floresta tento analisar o estado da Europa. Os extremos sejam de esquerda ou de direita, crescem substancialmente no Parlamento Europeu e o bloco central encolhe a olhos vistos. Mesmo com uma abstenção brutal, a Europa está descontente com o modelo Europeu, que com as Troikas e as políticas de austeridade levaram 25 milhões de pessoas para o desemprego, onde muitas delas, jamais deixarão a pobreza. Portanto, vem aí fogo, com as extremas e independentes a gritarem para que a Europa seja remodelada ou, até mesmo, implodida. E como há fogo, o Sr. Barroso sairá de fininho, talvez para Portugal, pois como de seu apanágio, foge sempre quando a situação está difícil. Pena que o Senhor que ninguém conhece, Van Rompuy não lhe siga, por enquanto, a peugadas.
A França e a Inglaterra, dois pesos pesados da economia, não se vão calar até a moeda cair. Farão trinta por uma linha, para que a Europa não fique igual e que possibilite a saída de alguns países da mesma. Ser Europeu não é para todos, só para quem pode. E segundo estes, os PIGS não podem.
Parabéns à Senhora Merkel, Oliren, Barroso, Van Rompuy, Christine Lagarde que, como cataventos dos grandes interesses económicos, nada fizeram para assegurar o projecto europeu. Com tanto eurocéptico não se adivinham grandes tempos. Lá vem a história dos Nacionalismos e Patriotismos exacerbados, que também são perigosos.


Para quem ficou em casa, está tudo bem. Parece-lhes que, se rebentar qualquer coisa, só será para o lado de Bruxelas, mas olhem que não…

Aqui há gato.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Despedidas de solteiro e a decadência sexual

Depois de ver a reportagem abaixo, possivelmente não encontrarei as palavras certas para comentar este tipo de comportamentos. Bem sei que posso passar por careta, que os tempos são outros, mas pergunto-me se poderia casar com uma mulher com este tipo de comportamentos. Não.

Nunca fui a nenhuma despedida de solteiro, digna desse nome. Quando falo em despedida de solteiro cinjo-me única e exclusivamente às festas com muito álcool e géneros desnudado, mão naquilo e aquilo na mão. Não sou antropólogo, mas nos grupos verificam-se o que o ser humano é realmente capaz de fazer. Seja pela violência, ou pelas mais caricatas situações, tudo se pega uns aos outros sem que se finde. Acresce ao facto de, desinibidos pelo álcool, o instinto sexual pode levar-nos a fazer os maiores dos disparates e depois da ressaca a consciência pesar.

Será que o casamento é essa coisa tão má que seja preciso, na noite anterior à cerimónia, deitar-nos com alguém, ou vários, que não seja a noiva ou noivo? Vomitar nos passeios e andar de peito ao léu para todos apalparem? Soube de uma história em tempos, que me chocou: Um rapaz que em plena tabledance, se vira para os amigos e diz: “Grande merda que tenho em casa.”; referindo-se à sua futura mulher, que se via trocada cabalmente por um par de mamas de silicone e um rabo rijo.

Como é possível, metermo-nos a jeito desta forma e desrespeitar aquela pessoa que, devido ao casamento, seria a pessoa com quem queríamos ter tudo? Que noção é esta de que a liberdade após o casamento acaba e que, para tal, há que ter uma noite promiscua?

Claro que, com bebida à mistura, há sempre uma possibilidade de violação, distúrbios e rixas. O Macaco Nu aproveita-se sempre da fragilidade dos outros e claro que por vezes algumas mulheres são apanhadas por homens sóbrios e oportunistas.

Aqui há gato.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Conversas de ginásio I


“Fogo, que gaja tão boa!” - Começamos logo bem – pensei -, enquanto fazia um pouco de supino para que o meu peito chegasse a um 34 copa B e a minha namorada não fugisse com outro, parecido com o Mark Ruffalo. Ouvia este pequeno prelúdio que daria um debate entre dois amigos, que encostados ao parapeito da janela descansavam os seus braços inchados e repletos de veias.

O meus ouvidos tornaram-se afinado, como os daquelas velhotas que estão todo o dia a janela, de robe com cores pardas e sujo dos pombos, que escutam todas as conversas, todas as vidas. Levantei-me da primeira série e meti mais dez quilos em cada lado. Hoje sentia-me imparável mesmo que os meus pulsos sentissem a dor do meu esforço.

“Que cú!”- Toma lá mais uma bujarda, só para saberes como se trabalha bem em Portugal na área do design feminino. Mais uma repetição de dez, mais cinco quilos em cada lado. A minha curiosidade, momentânea, aguça-se. “Quem será o alvo?” – Perguntei-me.

“Cú? E as mamas!?” – Dizia o mais franzino, porém também musculado, tentando separar as águas e metendo ponto assente que, caso tivessem um caso a três não se chateariam, um ficava com a parte de cima, outro com a zona traseira. Achei de amigo esse comentário. É nestas alturas que se vê a grande fraternidade entre os machos. É raro chatearmo-nos por uma mulher. O pessoal divide e não se fala mais nisso. (NOT!)

Na minha última série – quase que precisava de umas cuecas novas, devido ao peso -, senti o abanar das cabeças dos dois amigos, como quem dizia; “ Está aqui tão perto e não posso tocar.”. Foi aí que a minha curiosidade falou mais alto. Ao arrumar as bolachas, olhei para a gazela que estes dois leões gostavam de abocanhar ou, pelo menos, amassar. Era uma instrutora, a mais simpática diga-se de passagem, que sempre com o seu sorriso, andava de estação em estação a ver se alguém precisava de ajuda. O mistério estava desvendado.

Dois segundos depois, “Foda-se, o Jusoé não joga um caralho!” – Ah! exclamei com sensação de alívio, assim está bem. É mais confortável, sentir que os homens estão de volta ao normal. Mulheres! Não se assustem, pois este comportamento é que define o homem, acima de vocês, sempre o futebol. Esta coisa é simples para os homens: Olhou, gostou, avacalhou, mas há que continuar com a musculação, isto é, falar de futebol.

Foram mais de vinte minutos que falaram de bola. Jusoé, Fernando, Gáitan, Luísão e até o relvado, tomaram o espaço outrora ocupado pelo rego das mamas e do rabo; e os seus braços, outrora musculados e repletos de veias, transformavam-se a olhos vistos, em linguinis com tanto tempo de descanso. Estes meninos faziam uma série de dez repetições e descansam quinze minutos. Depois queixavam-se, já nos balneários e em frente ao espelho todos nus, que tinham que tomar suplementos. “Creatina, é que é!”. Não percebo porque é que, alguns, mexem no pirilau quanto estão em frente ao espelho. Reflexos da nossa evolução? Bem, adiante...

Já no banho ainda mandaram uma laracha, mas desta vez, sobre o Quaresma. “Foda-se com aquele penteado não vai longe.”. Dizia isto, um indivíduo que tem o cabelo em cone. Repito, em cone! Parece que a instrutora fora relegada para o último plano e, no fundo, aquelas mamas e aquele cú que quase os separavam, não passavam de um prelúdio que entre halteres desapareceu, dando lugar ao Benfica vs FC Porto desta quarta-feira, onde não existirá um único bom jogador.

Os ginásios são todos iguais, fala-se sempre de futebol com desdém, nunca ninguém é bom. Até já ouvi que o Messi ou o Cristiano Ronaldo são uma merda, e quando passa uma mulher gira, é cu e mamas para todo o lado, é faz e acontece, mordia e palpava, mas no fim o que interessa é, veemente dizer que alguém não joga um caralho. Isto é que é de homem, o resto são circunstâncias.

Aqui há gato!


quinta-feira, 6 de março de 2014

Whatsapp?

Se há coisa com a qual convivo mal, é com o objecto telemóvel tiritante, quando se está a falar com alguém. Há pessoas que não conseguem estar mais do que uma hora sem procurar o contacto visual no seu telemóvel.

No passado, a geringonça só servia para receber e fazer chamadas com uma radiação que fazia levantar os pêlos dos braços e apagar televisões quando se estava por perto, depois lá vieram as mensagens escritas; agora os telemóveis só não fazem tostas mistas por falta de queijo e fiambre. 

É o e-mail que chega, é o facebook que dá um alerta porque alguém fez “like”, é a imagem com frases de cortar os pulsos a falar sobre a vida, é a mensagem que cai, é o toque da amiga ou do amigo, é o twitter que apita, é alguém que publica uma foto no instagram, é o whatsapp que chega. 

Resumindo, é o patati-patatá do dia-a-dia que se encontra conectado ao pequeno visor e com o qual, parece-me, já não é possível não conversar sobre. Parece que o virtual se funde com o real e aí, prefere-se estar a ver o Facebook pelo telemóvel do que a ver um filme com alguém, prefere-se fazer “likes”, do que estar atento ao que outro está a dizer.

Não se apercebem que está sempre um totó (ou uma “totóa”) ao lado, à espera de contacto visual ou de dois dedos de conversa seguidos mas que, nunca chegam, porque há sempre um toque, uma vibração, um piscar de luzes que o remetem para segundo plano. 

Chego à conclusão que quando for grande, quero ser um telemóvel, mas dos bons: Um Iphone 7ª geração com tudo o que tenho direito. A maioria das pessoas não se apercebe deste síndrome. Às vezes até me dá uma certa vontade de rir porque, essas mesmas, são as que criticam o uso abusivo do telemóvel. 

Ainda bem que a tecnologia avançou no ponto de vista da leveza do instrumento senão, seria complicado manusear um telefone de discar antigo, para meter likes e afins, mas mesmo assim, cá desconfio, que as pessoas o fariam. 

Aqui há gato.
Vasco