quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Do céu para os Homens

Play me first

Ouve-se um trovão, seguido de um silêncio. Nunca saberemos porque o fazemos, pelo que consta, fazemo-lo desde os primórdios do tempo mantendo assim a ordem e a regeneração de toda a vida no Universo que lhe cabe na palma da mão. Somos aos milhões, voando numa amálgama dourada onde a luz se multiplica a cada bater de asas, num zimbório de calor maternal, um frenesim mudo de corpos despidos pendurados em asas brancas que rodopiam entre o caos e a harmonia até chegar a hora de nos deixarmos ir. É a missão que todos temos, dando continuidade ao tempo até que ele meta fim a si próprio. Aqui também pensamos no que existirá depois do tempo acabar e o porquê de ele existir, levamos connosco essa única curiosidade grandiosa que nos apoquentará até ao fim da nova vida.

Descontraímo-nos. Num último sopro olhamos para trás e contemplamos o que deixamos. Aquilo que os humanos chamam céu, é um simples assento onde vagueamos dentro de nós pensando e repensando o que queremos voltar a fazer e, aí, ninguém sabe em que nos tornaremos. Entramos no carrossel como se o tivéssemos feito desde sempre, andamos em círculos até chegar a nossa vez. Somos sonho, somente isso, vislumbre do que será uma vida depois de nos despirmos de todos os sentimentos e sabedorias. Fechamos os olhos e desconectamos do mundo divino. Abraçamos a morte com um beijo inocente, na saudade de voltar para sempre aos seus braços. 

O corpo contrai-se, resquícios de termos sido outrora humanos. A mão que nos segura, larga-nos num espaço que nos parece infinito. A viagem parece-nos longa, repleta de penas soltas e redopios. Tornamo-nos pesados, tão pesados que as asas são arrancadas do nosso corpo. Gritamos não pela dor, mas pela viagem, que a fizemos vezes sem conta mas que, mesmo assim, sentimos medo. 
 
As imagens apagam-se com o tempo, as memórias soltam-se do espirito. Dá-se o enlace, caímos num mar quente, tão quente como no princípio do tempo. Cegos, sem memória, sem asas, assim nascemos para o mundo empalamado, com o choro de um grito.

- Parabéns, é um menino.

(dedicado à minha querida amiga Vera, com os meus parabéns pela tão difícil conquista)


3 comentários: