segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O sonho no Inconsciente

Depois de caminhar durante uma vida, chego ao meu mais profundo e inóspito interior. Entre milhares de feixes luminosos, sons e sensações nunca antes sentidas percorro toda minha vida em pouco mais de dois segundos. Dois portões que se perdem numa infinita altura surgem pela frente, parando todo e qualquer movimento da minha caminhada. Este frontispício forjados a ferro fundido, calcinado pelo padrasto tempo, é assustador. Sinto com as minhas mãos um áspero e arrepiante som metálico, aquando forço a entrada. Algo me diz que não devia estar por ali. Pequenas e grandes estátuas movem-se lentamente, olhando para o meu esforço estóico, quase aflitivo para passar a barreira metálica que me encarcerava do lado de fora. Pequenas lascas de pedra saltam dos seus corpos em movimento repousando sem qualquer som num chão rochoso e sujo. Parece que não se moviam faz tempo; muito tempo. O portão fica entreaberto para não mais mover-se. Morre o seu guincho dilacerante. Sinto as centenas de estatuetas semi-humanas fixarem-me no seu curto horizonte. Todo o ambiente é húmido, colorido a cinzento pintalgado de verde seco. Arrepia estar por ali, sozinho. Um pequeno raio de luz atravessa todo o ambiente vindo do céu. Faz-me lembrar quando num dia coberto de nuvens negras um raio de sol abre caminho até ao mar. Esse raio projectava-se sobre uma poltrona, grandiosa e imponente pelos detalhes. Aproximo-me, sempre vigiado pelos inúmeros olhos de pedra que fazem questão de me marcar. Deambulando pelos trilhos do caminho sinuoso, consigo chegar até ao espécime híbrido que se encontra sentado e iluminado. A sua cabeça de cavalo puída pelo tempo começa a estalar, tentando endireitar-se para me olhar. Dou um passo atrás, assustado com o que vejo. De repente o seu único olho interroga o consciente. 

– Que me queres? – Pergunta com desdém. Ainda surpreendido por toda a envolvente respondo-lhe de sobrolho inquisitório. 

- Onde estou? – Começa a murmurar entre dentes uma linguagem que não entendo. Ecoava por todo o lado numa gravidade crescente, fazendo lascar os demais pilares jónicos que seguravam a névoa celestial. Quando olho para trás todas as estatuas estava alinhadas geometricamente. 

– Este é o teu inconsciente.

Entro em sobressalto para tentar perceber o que se passa à minha volta. Ele continua. 

- Foi isto que construíste ao longo dos tempos. Nunca vieste para perceber o teu íntimo e mortal instinto. Esta é a tua profundeza inóspita. Aqui jazem os teus mais profundos pensamentos, os teus receios e os sonhos que nunca quiseste vingar.

Olho em redor, começando a reconhecer as pequenas e grandes estatuetas com alguns objectos nas mãos. Objectos que me traziam resquícios de vontades já passadas e cilindradas pelo tempo. Aquele avião pequeno, aquele tubo de ensaio, um livro, um violino, a bola, a raquete e os demais, implodiram em mim. A saudade encheu-me o pensamento, mas logo sou acordado desse sonho inconsciente.

– Portanto o que te pergunto é o seguinte: Olha para ti como se olhasses para um estranho. O que vês?

As estátuas começam a desfazer-se e as grandes colunas jónicas zumbem ao sabor da queda que as transformam em poeira cimentada. O último a desaparecer foi o híbrido, cuja cabeça de cavalo se transformava a golpes de erosão numa cabeça humana. Reconheci-a.
Acordo com essa pergunta na cabeça. Existe um manuscrito em cima da minha cama, perto da minha cabeça que resvala entre duas almofadas.

“ Vive os teus sonhos. Transforma a tua vida. “
  


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