terça-feira, 30 de julho de 2013

Rapto no Kirghizistão Rural



Uma das mais chocantes realidades do século XXI ocorre nesse país de difícil pronuncia mas, no entanto, quase do tamanho da nossa Europa, O Kirghizistão. Sabemos que as tradições são, por vezes, de difícil manejo e a nossa condição humana em nada ajuda para arejar as ideias ou, muito possivelmente, já teríamos evoluído para deixarmos para trás as nossas arrogâncias.
As mulheres sempre foram alvos fáceis em toda a história da Humanidade (retiro aqui as famosas Amazonas); sejam elas as Devadasis, oriundas da profunda Índia e crentes em Yellamma, passando pelo Dubai, Tailândia, África e América do Sul, as mulheres sempre viveram na sombra animalesca e forte do homem. O Homem macho, o alfa da “matilha” sempre foi um perigo à solta quando não agrilhoado. Querer é poder e poder é ter. É caso para dizer, viva a emancipação destas guerreiras, que nos sistemas democráticos tiveram a porta aberta para, o que me parece óbvio e justo, a igualdade e prosperidade.

Neste post, tento mostrar às pessoas mais perto de mim que a vergonha humana paira no ar como feromonas estridentes que unem um grupo para acasalar. Nesse país de tamanho Europeu – Referir-me-ei ao Kirghizistão desta forma -, os homens podem raptar a mulher que pretendem, para com ela casar. Sem grande direito a defesa, a mulher esperneia, grita, chora, mas é a sua própria família que acaba por ajudar nessa captura, porque é tradição e sempre assim foi. A própria família tenta, com um pano de fundo de choradeira, convencer que será bom ficar com uma pessoa que não se conhece e há algumas (sim, mulheres) familiares que ainda riem da situação. Chamo a especial atenção para o facto perverso da coisa (Quer dizer, tudo isto é muito perverso): Uma mulher até pode estar apaixonada por A, mas se B a quiser e a raptar, ficará com B para o resto da vida. Este tipo de acções levadas a cabo pela matilha de homens, que cuidadosamente planeiam a captura da sua vítima (muitas das vezes nas casa dos pais das mesmas), tornam-se não só um passaporte para a infelicidade profunda das mulheres, como para a proliferação de suicídios e doenças infecto-contagiosas. Não consigo imaginar na dor profunda destas mulheres alvo deste acto hediondo e, confesso, que me faz realmente confusão como outras mulheres adultas se colam a este processo, corroborando as ideias dos homens. Por que razão podem eles fazer isto? A resposta é igual à pergunta, " Por que razão o cão lambe os testículos?", porque podem. É uma merda, não é?
E assim é a vida no campo nesse país do tamanho da Europa.

“You’re crying, so you’ll be happy”.
“Girls will be Happy if they get married crying.”

Aqui há gato.

 

4 comentários:

  1. Há aqui toda uma panóplia de fenómenos interessantes e perigosos. Primeiro: o enraizamento quase cultural de comportamentos bárbaros ("sempre se fez por isso deve estar certo"); Segundo: a utilização desse tipo de comportamentos para oprimir um sector da população - e sabemos que quando as pessoas nascem e crescem com uma realidade, numa sociedade fechada e castradora, tendem a achar que o mundo é mesmo assim; Terceiro: aquele fantástico mote da existência humana - "se eu sofri desta forma, tu tens de sofrer também".

    Coisas como estas fazem-me pensar que, para mim, o acaso da vida foi sorte, porque nasci em Portugal.

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    1. Sim, o meio infuencia o Macaco e o misticismo associado a essas vivências, também. Basta ver a excisão. Todas elas praticadas pelas mulheres, sobre as mulheres, por "tradição".
      Por falar em misticismo. Na Libéria há guerrilheiros que cortam o orgão genital da mulher (mortas na estrada) e andam com os lábios vaginais na carteira. Com que objectivo?! Porque lhes dá poderes de domínio sobre outros homens num grupo. (GENIAL, não é? Bem, estamos a falar de um país onde existe canibalismo)
      Sim, viva a Europa.

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  2. Sou um bocadinho fundamentalista quando falamos de direitos humanos, nomeadamente de direitos das mulheres. O que se passa neste país é a mesma coisa que se passa em inúmeros países onde as mulheres (e às vezes até os homens)são "entregues" em casamento sem direito de escolha. Como diz a Sofia, é tudo feito em nome da tradição (ou da religião ou da cultura ou, ou, ou).
    Mas como mudar as coisas? Guerra? não é com violência que se muda mentalidades, além disso a violência não é resposta para nada (por muito que achemos que por vezes é merecida). Tem que se mudar mentalidades (ou dar essa hipótese, porque em última análise será sempre uma escolha das próprias - a liberdade de escolha é importante) através da educação. Não de uma educação fundamentalista mas de uma educação que dê as ferramentas necessárias para uma opção consciente e fundamentada.
    Continuo a dizer que é por estas e por outras como estas que o dia Internacional da mulher ainda faz sentido.

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    1. Concordo e digo que tenho pena que em pleno séc. XXI ainda tenha que existir o dia da mulher. Vejo-o sempre como algo discriminatório, mas certo é que ainda existe muita tradição - com homens na liderança -, que não deixam a mulher ter livre arbítrio.

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