Como escreveu na pedra a poetisa Safo de Lesbos; “ Se a morte
fosse um bem, os deuses não seriam imortais.”. Ficamos cientes do medo que
clandestinamente vive dentro de todos nós. Se os deuses não morrem, tal acontecimento não
pode ser bom. Sendo algo a temer, é algo que só os que cá ficam têm
que lidar. Com a morte eleva-se o sentimento adormecido de compaixão e a
racionalidade da compreensão. Tomamos as palavras do morto como nossas, as suas
vivências passam a ser contadas na primeira pessoa, choramos e rimos filtrados
pela vida de quem já não se encontra no mesmo tempo e no mesmo espaço.
É a morte que limpa a alma de quem fica e desloca-nos para o
lugar certo neste universo que, vezes e vezes sem conta, tentamos desafiar por
pura soberba. Passamos a estar atentos ao nosso interior e aos que
irredutivelmente amamos, nem que seja por breves instantes. Escalpelamos todos
os porquês do desdouro, tomando a dor do defunto que, inerte, porfiamos dar
vida em nós. É este o sentimento-maior que o ser humano tem: Sentir que o que
jaz, ainda vive através das palavras e das suas histórias que, tão
prematuramente como a sua morte, se tornam nossas para sempre.
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