terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Momentos que a morte traz

Como escreveu na pedra a poetisa Safo de Lesbos; “ Se a morte fosse um bem, os deuses não seriam imortais.”. Ficamos cientes do medo que clandestinamente vive dentro de todos nós. Se os deuses não morrem, tal acontecimento não pode ser bom. Sendo algo a temer, é algo que só os que cá ficam têm que lidar. Com a morte eleva-se o sentimento adormecido de compaixão e a racionalidade da compreensão. Tomamos as palavras do morto como nossas, as suas vivências passam a ser contadas na primeira pessoa, choramos e rimos filtrados pela vida de quem já não se encontra no mesmo tempo e no mesmo espaço.

É a morte que limpa a alma de quem fica e desloca-nos para o lugar certo neste universo que, vezes e vezes sem conta, tentamos desafiar por pura soberba. Passamos a estar atentos ao nosso interior e aos que irredutivelmente amamos, nem que seja por breves instantes. Escalpelamos todos os porquês do desdouro, tomando a dor do defunto que, inerte, porfiamos dar vida em nós. É este o sentimento-maior que o ser humano tem: Sentir que o que jaz, ainda vive através das palavras e das suas histórias que, tão prematuramente como a sua morte, se tornam nossas para sempre.

Espoliamos literalmente quem num caixão eternamente habitará e, este acto inconsciente torna-se o mais altruísta: Salvar a memória de quem já não a pode salvar. A Morte ensina-nos que o Amor existe, perdoa mais do que vinga, partilha mais do que reserva e oferece o melhor de nós aos que, com dor, viverão até ao seu fim com as memórias de quem já partiu, sempre com a saudade de um último abraço.

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